sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Dois perdidos numa noite vazia

“...Saíram de casa cedo, ainda não eram oito horas, o programa não era animador, mas não agüentavam mais ficar em casa, parece que no final de semana é sempre pior, quando você não tem mil coisas pra fazer e se preocupar. Chovia e fazia frio se é que faz frio no Rio, mas tudo parecia melhor do que o tédio familiar. Jack e Charlie estavam ansiosos quando chegaram a Ipanema, meio sem motivo, afinal assistiriam um show que já visto outras vezes e não encontrariam ninguém em especial. Mas estavam falantes, misturando empolgação e desconfiança, e não pensaram duas vezes antes de pegar uma cerveja mais barata no posto perto do pub onde o show estava rolando. Sempre faziam essa opção como se desse jeito escapassem de toda lógica capitalista, mas não dava pra negar que entre pagar cinco reais num bar e dois num posto de gasolina, a segunda opção era óbvia. Beberam a cerveja correndo e chegaram no show já pela metade. Donna era uma boa cantora, conhecida deles, aristocrata com sinceras pretensões artísticas, cantava um interessante repertório de jazz que parecia não combinar com o ambiente falante e desinteressado do lugar. Sentaram-se na mesa dos amigos, seus amigos elitistas, que não dispensavam bons drinks e uma boa dose de soberba. Na mesa haviam pessoas concentradas, sonolentas ou simplesmente vazias, uma garota bonitinha e irritante que falava de grana, bons programas, de como ela era o máximo, todo aquele papo establishment que quando você ouve dá vontade de sair correndo, se ao menos aquela outra gata que apareceu de repente tivesse dado bola para Jack, uma gostosa marrenta que ele conhecia vagamente e que deixa todo homem cheio de tesão. Charlie não estava nem aí para o show, era incrível como aquele cara conseguia ficar alheio a tudo, fumava seus cigarros e não tirava o olho das atrizinhas de teatro ali presentes, além de uma coroa bonitona e casada que também não parava de dar mole para ele. Apesar disso ele sabia que aquilo não ia dar em nada, a paquera só era um ótimo meio de se distrair de tudo. Havia Michael, grande amigo dos dois, cara empolgado e simpático, amante da boemia, de boas conversas, um cara que melhorava o astral de qualquer lugar. Mas como a maioria dos loucos saudáveis que estão por aí Michael era gay e certamente tinha um ótimo programa perdeção de linha para depois, daqueles que só os viados sabem fazer. Estava fora da alçada dos dois solitários que tinham que partir pra algum lugar depois do martírio da caretice. Entraram no primeiro boteco que apareceu, precisavam beber umas cervas, ligar pra alguém, reclamar e arranjar uma solução logo depois, um ritual indispensável pra eles se sentirem vivos e dispostos de novo. Jack lamentava a falta de mulheres, a chuva fina misturada com o vento frio que impedia que eles bebessem à vontade no meio da rua. Charlie tinha uma postura enigmática, às vezes era zen e parecia saber exatamente o que fazer, em outros momentos era tomado por uma intensa ira por causa de coisas idiotas como um isqueiro quebrado. Nesse meio tempo de cervejas e oscilações de humor conseguiram arranjar um programa, havia uma festa de um conhecido, festa de um pessoal de cinema em Niterói. Valia à pena conferir, essas festas sempre valem, no mínimo seria engraçado ver aqueles intelectuais misturados com umas figuras loucas, todos bêbados e chapados. Já era quase meia-noite quando pegaram uma van na General Osório e partiram para a festa. Nesse momento já eram outros, riam alto, falavam merda, estavam novamente descontraídos e excitados imaginando o que a madrugada iria oferecer para eles....”

2 comentários:

Anônimo disse...

Isso me soa estranhamente familiar. parece com uma recente aventura minha numa noitada... (rs)

Bernardo Lima disse...

mt boa a história...
rsrs
sobre papinhos de burguês, realmente são um sao...
e continue a NÃO sustentar o capitalismo selvagem,ou seja, compre a cerva de 3 reais do posto...
rsrs
abraço, cara

sobre o cabelo:

acho qnunca segui a moda quanto a isso...já tive até asa-delta misturado com um topete e que geral zoava...
rsrs
hj em dia tenho cabelo cacheado e grande, aí mó galera implica...
mas to nem aí, até pq implicam mais os homens. as mulheres ou gostam ou são indiferente...rsrs
mas prefiro não ter aqueles cabelos manjados de playboyzinhos q vc encontra em toda esquina, jogado na cara...
abraço!