domingo, 16 de março de 2008

VIDA BANDIDA


Já repararam que o cinema atual é obcecado com a criminalidade? Claro, retratar a vida bandida sempre foi atraente, sempre foi garantia de sucesso, vide Bonnie and Clyde, O Poderoso Chefão, Scarface, entre outros sucessos do gênero. O intrigante para mim é a repetição da sinopse "jovens ricos de vida vazia buscam no mundo do crime uma forma de diversão e grana fácil". Já virou um clichê: filmes que retratam jovens precisam entrar no universo de crime, tráfico de drogas e vandalismo. Vemos isso à exaustão tanto no cinema nacional quanto no estrangeiro. Tanto os gringos Alphadog, Garotas sem limite (Havoc), quanto os brasileiros Meu nome não Johnny, O Magnata, Ódiquê e por que não, Tropa de Elite são alguns exemplos de filmes que mostram uma juventude vazia que em busca de diversão e emoção na vida acaba se envolvendo com o submundo e crime.

Para mim, o problema não é a presença da criminalidade em si. Acho que roteiros com essa temática geralmente são muito bem amarrados, interessantes de se ler, escrever e assistir. Eu mesmo já tive ideias exatamente iguais ao objeto da crítica. O que me incomoda é a idéia subentendida que a diversão está diretamente ligada ao crime. A impressão que estes filmes me passam é que uma vida boêmia passa, invariavelmente, por algum tipo de contato com a contravenção.

Não nego que muitas vezes os dois mundos se encontrem, o consumo de drogas, o contato com a vida noturna leva naturalmente as pessoas a ter um contato maior com o lado "obscuro" da vida. Mas acho preocupante quando vejo que só se consegue retratar o irresponsável mundo jovem quando este está ligado ao crime e violência. Como se não houvesse meio termo, se você tem principios éticos é um careta, se não tem provavelmente leva uma vida agitada e divertida. Fico pensando que no passado existiu uma geração com vocação para boemia, festas e mulheres que nunca precisou vender drogas, matar rivais ou assaltar lojas para dar emoção a propria vida. Ficavam loucos, eram inconsequentes, mas também criavam, seja escrevendo, fazendo música, atuando ou simplesmente indo para o seu emprego no dia seguinte.

Acho que essa repetição temática não está só ligada a conjuntura social que vivemos. Tem a ver também com a eterna postura assumida pela classe média quando alguma coisa estraga o seu mundo perfeito. A busca por um culpado imediato. Dessa forma, se seus filhos se envolvem com o crime e se tornam bandidos a culpa é da vida desregrada e irresponsável que levam. Não costuma ser questionado os motivos principais, mais complexos, que levaram os jovens a entrar nessa vida: a sua total alienação, tédio e falta de personalidade diante do mundo em que vivem. Fico pensando se isso também não se aplica aos roteiristas e cineastas. Estarão eles cumprindo um papel importante ao retratar com fidelidade a juventude contemporânea? Ou, ao reproduzir a histeria moralista da classe média, estão simplesmente entediados com a redoma cult onde vivem, desejando no fundo ter uma vida mais "emocionante", mesmo que seja só no papel? Temo pela segunda opção.

Um comentário:

osátiro disse...

Tem toda arazão: violência, violência...sem parar.